Retrovisores e mirantes de minha existência (ou as mulheres de minha vida!)

Há poucos dias, uma dessas mulheres completou 80 anos, e nem sob tortura contarei qual delas, afinal não se fala a idade de tão nobres e formosas damas assim, não impunemente.
Irmãs de pai e mãe, por vezes juntas, por vezes afastadas pelas dificuldades que hoje nos parece tão distantes pela atual facilidade da vida. Mulheres lindas que por vezes parecem ter 15 anos, mas por vezes estão com mais de 100... cansadas das bobagens dessas novas gerações.
Com cada uma delas vivi momentos inesquecíveis e marcantes. Uma delas escolhi como madrinha, mesmo não tendo sido essa a escolha de meus pais em minha tenra infância. Outra me salvou do péssimo hábito de roer unhas, me mostrando a beleza de unhas cuidadas, hábito que mantenho mesmo depois de algumas décadas. Outra me falou verdades inconfessáveis quando todos ficaram com medo de dar palpite, me despertando e evitando algumas burradas que poderia ter feito. A outra é “hors concours” afinal, mãe é mãe!! Mãe é modelo, é companheira, é amiga; mesmo tão diferente de mim, por vezes minha arqui-inimiga e dessa forma me fortalecendo para as verdadeiras batalhas.
Honrar pai e mãe não é apenas um mandamento cristão, mas uma diretriz formadora de pensamento. Serve para nos mostrar nossa origem e lembrar que árvore sem raiz não cresce muito. Atitudes que tomamos sem que nossos pais saibam, e nem gostaríamos que desconfiassem, nem sempre nos trazem benefícios. Mas depois, com a nossa maternidade, imaginar que podem fazer algo e que pretendem nos esconder mostra o quão frágeis essas omissões foram. Você faria isso na frente de sua mãe/pai? Então porquê faz??? Mas isso é outra “estória”.
Essas mulheres viveram juntas parte da infância e parte da adolescência. Viveram amores e desamores, muitas desavenças e brigas por preferências e gostos particulares. Dividiram sonhos e medos de menina moça e as descobertas de mulher, mãe e esposa...  Com a maternidade abençoaram seus filhos e sobrinhos, netos e sobrinhos netos. Tiveram choro e colo entre si. Viram os filhos e os netos umas das outras. Enterraram irmãos e os pais. Choraram.
Hoje tem famílias perto, ou não. Hoje tem maridos perto ou não, vivos ou não. Cuidam de netos ou não. Viajam em família, ou não.  Sofrem por seus filhos como todas as mães e reclamam de seus maridos como todas as esposas. Agradecem o nascer de mais um dia ao Pai Eterno em intimidade ou em publico. São muito diferentes em gostos, estilos, afetos e escolhas. Mas tem algo em comum que nunca faltou: o amor de irmão, familiar. Mesmo que para brigar, falar verdades, não pagar dividendos, ser isso ou aquilo. Mas de alguma forma, sempre puderam contar umas com a outras; ora em pares, ora três, ora todas. Na separação, no adoecer dos filhos, nas crises da vida.
Lembro delas com idade aproximada a que estou hoje, ouvindo caladas minha avó dizendo verdades que elas sabiam ser ultrapassadas, mas nunca a afrontaram. Uma delas foi fumante a vida toda, mas minha avó não podia saber. Houve brigas e períodos de “nunca mais” - abreviados pelo amor verdadeiro e respeito imposto por uma educação que as acompanhou a vida toda. Respeito! Hoje nem às autoridades, que dirá aos pais, familiares, irmãos... mas isso é outra conversa.
Espero chegar tão longe e tão bem acompanhada. Espero vivenciar todo o amor que senti quando as vi juntas.

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